Artigo de minha autoria publicado no jornal "Mensageiro da Paz" em abril de 2016.
O
jejum é uma das práticas devocionais mais antigas do povo de Deus. Consiste na
abstinência total, ou parcial de alimento durante um determinado período, tendo
como objetivo o aperfeiçoamento do exercício da oração e da meditação da
palavra de Deus. Apesar de ser praticado por outras correntes religiosas, o
verdadeiro jejum que agrada ao Senhor deve estar de acordo com a Sua Palavra,
pois ela é o nosso manual de fé e prática.
Moisés,
Davi, Daniel e Ester estão entre aqueles que praticavam o jejum. O próprio
Senhor Jesus, nosso maior exemplo, jejuou. Através destes exemplos somos convidados
a jejuar e buscar um momento de mais consagração e intimidade com Deus.
Recentemente
uma cantora gospel que também é pastora inaugurou uma “Escola de Jejum”, onde
os interessados devem pagar a quantia de 50,00 por uma aula que tem a duração
de duas horas, sendo ministrado uma vez por semana, por duas semanas. Nestas
aulas, que segundo ela são “tremendas”, os alunos aprendem que o verdadeiro
significado do jejum que é “fazer a vontade de Deus.”
O
jejum sempre é citado por esta cantora como uma fonte de bênçãos, mas seu
entendimento sobre o assunto é totalmente equivocado, pois para ela a pessoa ao
mesmo tempo pode jejuar e continuar comendo normalmente, bastando que ore a
cada seis horas.
Ela
afirma que o jejum não precisa ser necessariamente de alimentos, pode ser um
período sem ver televisão ou acessar a internet ou basta abster-se de certo
tipo de alimento como doces e refrigerantes (alimentos supérfluos) e pães. Seu
embasamento, para ensinar um jejum tão flexível, parte do pressuposto de que
“não há regras fixas na Bíblia sobre quando jejuar ou qual tipo de jejum
praticar.”
Interpretando
erroneamente o texto de Isaías 58, a pastora afirma que “jejum não é ficar sem
comer, é fazer a luz de Deus brilhar.”, mas com uma leitura atenta do texto, podemos
concluir que Deus não condena a abstenção de alimentos praticada por Israel no
jejum, mas adverte que antes de jejuar, os israelitas deveriam ter uma vida de
obediência aos mandamentos divinos e de amor ao próximo, pois somente assim
seriam abençoados. O profeta ensina que jejum sem vida piedosa é hipocrisia.
Suas
declarações sobre o assunto dão a entender que para ela tudo é jejum. Quando o cristão ora, louva, pratica boas
ações e libera o perdão para quem o ofendeu está também jejuando. Mas ao
afirmar que tudo é jejum, ela na verdade está dizendo que o jejum é nada, pois
o está esvaziando de seu verdadeiro sentido.
Mas
será que realmente a Bíblia não nos ensina a maneira correta da prática do
jejum? Com certeza a Palavra de Deus tem as respostas para todas as perguntas
feitas pelo ser humano. Se pensarmos o contrário, estamos negligenciando seu
proveito para o ensino, para redarguir, para corrigir e nos instruir em justiça
(cf. 2 Tm 3.16).
A
Bíblia nos ensina de maneira clara e simples o real significado do jejum e a
maneira correta de jejuar. Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, no seu Sermão
da Montanha, abordou de maneira contundente o assunto afirmando que o jejum não
deve ser feito com o objetivo de chamar a atenção dos homens, pois é
hipocrisia. A humilhação não deve ser exterior, mas no coração onde somente
Deus vê (Mt 6.16-18), o reformador francês João Calvino afirmou que o objetivo
principal do jejum é quebrantar ou romper os corações e não a roupa.
O
jejum em si, como qualquer outra forma de ascetismo, em nada acrescenta a nossa
salvação, pois ela já foi conquistada por Cristo na cruz do calvário. Nossa
salvação não depende da quantidade de vezes que jejuamos. Mas então por que
devemos jejuar? Qual a importância do jejum para a vida cristã?
A
atitude de jejuar não deve ser encarada como uma autoflagelação, antes deve ser
vista como um momento de alegria (Zc 8.19), pois quando jejuamos estamos nos dedicando
integralmente a oração e a meditação. Todo o nosso tempo, ser e emoções estão
voltados para a busca de objetivos espirituais em Deus.
O
jejum deve ser feito com algum propósito, pois se não for assim, será apenas
uma dieta alimentar. Segundo a Bíblia de
Estudo Pentecostal, o jejum pode ser feito com os seguintes objetivos: Honrar
a Deus (Lc 2.37; At 13.2); pode ser uma atitude de humilhação perante o Senhor
(Sl 35.13; Ed 8.21) para alcançar mais graça e assim desfrutar da presença
intima de Deus (1 Pe 5.5; Is 57.15); expressar arrependimento pelos pecados
cometidos e pesar pelos pecados da
igreja, da nação e do mundo (1 Sm 7.6; Ne 9.1,2); buscar o auxílio divino na
realização de novas tarefas e reafirmar nossa consagração a Ele (Mt 4.2); como
forma de buscar a Deus e assim prevalecer contra forças espirituais do mal que
lutam contra nós (Jz 20.26; Jl 2.12); como um meio de libertar as almas da
escravidão maligna (Mt 17.14-21). A pastora, que está na direção de uma
denominação e que possui uma legião de seguidores nas redes sociais, gosta de
declarar que “nosso jejum não muda a Deus”, uma afirmação bastante óbvia já que
uma das características do Senhor é a imutabilidade (Hb 13.8), mas podemos
jejuar para demonstrar nosso arrependimento e assim preparar o caminho para
Deus mudar seus propósitos declarados em julgamento (Jn 3.5,10; 1 Rs 21.27-29;
2 Sm 12.16,22); através do jejum é
possível obter o conhecimento da vontade de Deus (Dn 9.3,21,22; At 13.2,3); e abrir caminho para o derramamento do Espírito
e para o retorno de Cristo para buscar a sua Igreja (Mt 9.15).
Afirmar
que a Bíblia não estabelece regras para o jejum é demonstrar desconhecimento
sobre o assunto. Através da leitura bíblica somos advertidos que os casados não
podem se dedicar por longos períodos ao jejum, a não ser por consentimento
mútuo (1 Co 7.5). Aprendemos através da observação dos exemplos dados pelos
personagens bíblicos que o jejum absoluto, onde há total abstenção de alimentos
e água, não deve ultrapassar três dias (Et 4.16; At 9.9), pois após este
período o corpo desidrata colocando a saúde em risco. Um jejum que prejudica a
saúde não é aceitável a Deus, pois obedecer é melhor do que sacrificar (1 Sm
15.22). Moisés e Elias fizeram este tipo de jejum por 40 dias, mas em condições
sobrenaturais (Êx 34.28; 1 Rs 19.8), o jejum feito pelo Mestre, foi um jejum
normal, onde há abstenção de alimentos, mas não de água (Mt 4.2).
Observamos
com pesar um evento pseudo-teológico onde são ensinadas “novas revelações e
interpretações” travestidas de práticas devocionais cristãs sendo tão procurado
por cristãos que “tem a mente de Cristo” (1 Co 2.16). Isto é apenas um reflexo
do mercantilismo da fé que infelizmente é comum em nossos dias, e que tem
atraído cada vez mais pessoas interessadas mais nas bênçãos do que no
Abençoador.
Para
se conhecer sobre a prática do jejum não é necessário pagar 50,00 por aula,
basta uma leitura atenta da Palavra de Deus, mas se mesmo assim as dúvidas
persistirem, não é preciso se matricular em uma “escola” específica sobre o tema,
basta procurar o maior seminário teológico do mundo, que atende a todas as
faixas etárias e não cobra nenhuma taxa de seus alunos: a Escola Bíblica
Dominical.
Escola de Jejummm...!!!???
ResponderExcluirEstudo muito elucidativo. Deus te abençoe ricamente!
ResponderExcluirEscola de jejum... você fica sem comer e me paga. Falta Novo nascimento e sobram heresias.
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